quarta-feira, 16 de setembro de 2009

'Com camisinha'

A despeito das divergências sobre as conveniências de se pegar um táxi, posto ser o transporte coletivo demorado e impessoal, havemos de admitir que nos ônibus as histórias fervilham, dado o contingente humano com suas nuances esperadas e inesperadas. Mas o motorista é quase um anônimo, robotizado, ali no compromisso de pegar e largar gente e, raramente, as pessoas se lembram da face do sujeito. Agora no táxi tudo muda; ou nos deparamos com um ser hermético e ávido pela corrida sem mais delongas, ou então, o caminho se torna o próprio divã. Assim, as histórias também se multiplicam ou se condensam na mente.

Não me lembro exatamente o nome da taxista, nem mesmo qual era a empresa a que servia, senão que chegou bem na garagem do prédio em que estávamos; o ar era de segurança e conforto. Mas quando adentramos o recinto motorizado, verificamos que a condutora estava um tanto nervosa e se embaralhava com vários objetos entre rádio escuta, sacolas plásticas e volante. Como o motivo era de festa e não havia horário determinado de chegada, relaxamos.

Iam eu, Vivi e Gabi pro samba. Pra onde é?, interpelou a taxista. Pra quadra da Mangueira, respondeu Gabi. Onde é isso?, perguntou a taxista. E a fachada de segurança se desmanchando, enquanto eu e Vivi no banco de trás nos olhávamos meio duvidosas, meio prendendo riso. Gabi logo direcionou a condutora, que deveria ir pela Serra mesmo; caminho menos tortuoso, mas que reservava uma descida considerável para uma motorista que parecia até aquele momento não se preocupar tanto com o volante. E dessa maneira seguiu os primeiros dez minutos do trajeto, sobretudo, na ânsia da escuta.

Na verdade, ela não se preocupava com o caminho a seguir, mas sim com o próximo que deveria fazer enquanto as falas no rádio em altíssimo volume a deixavam ainda mais ligada na disputa pelas corridas. Curiosamente, no meio do caminho, ela terminou entrando num papo ‘opinioso’ sobre filhos, os quais nunca quis ter, e sobre o uso obrigatório da camisinha com seu marido. ‘Terrível o número de mulheres casadas que contraem aids’, e nós assentimos, sem ter como questionar. Nesse momento percebi que a taxista não era nada confusa. Era simplesmente uma futurista nata. Tudo era milimetricamente planejado, por isso, o volante, de vez em quando parecia nem importar tanto, nem sequer os caminhos, porque o que valia mesmo era chegar no próximo destino. Agora voltar ali na Mangueira ‘nunca’, ‘quando vocês saírem daqui já estarei dormindo’...

Chegamos bem; aproveitamos o samba no melhor estilo e pra variar, na volta, pegamos um táxi. Só que o condutor dessa vez não parecia nada futurista; aproveitou o momento para paquerar, enquanto tentávamos, pegando carona na manha dele, livrar-nos do adicional do pedágio...Aqui o tom era leve e brincalhão. O assunto da obrigatoriedade do uso da camisinha não surgiu, e não nos livramos do pedágio.

Um comentário:

Gabriela disse...

Só aventura aqui no Rio... hehehe