Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Encanto
O que me encanta em ti? Não digo, pois que encantamento não é coisa de se dizer. Tão logo se matuta sobre o que de encanto há, tão logo vem certas arestas, certas amarguras ou dúvidas, posto que encanto não nasceu pra ser dito, só ouvido e sentido como palavra exata. Talvez o que me encante em ti seja exatamente a palavra silenciada que não traz ofensas, nem disfarces. Guardo de ti aquela face de alvura mansa a refletir a luz como um clarão; e os olhos cor de folha semi-desidratada, quase um verde complacente e equilibrado com meus sentimentos meio tortos, como se a esperança ali condensada naquele olhar fosse o próprio dizer de encanto, e não valha a pena fazer interpelações ou elucubrações a ou sobre sua pessoa além daquele lugar de descoberta. Porque o lugar da descoberta é o natural encanto que não se desfaz, porque fica lá in memoriam, em quase estado de latência, numa potência de sentir plena e inesgotável. E aquele toque de bocas, um tátil inquestionável de um movimento meio ternura, meio curiosidade por aquilo que não se conhece, muito aquém da mágoa, dos pensares que antecedem o gesto espontâneo e justo. É isso o encanto; um lugar infantil, de brincadeiras e experiências, um lugar de jogo sem planos.
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