Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Você
Você me maravilha, porque enquanto cega-me os olhos, abre-me outros em todas as partes do corpo e da alma. Abre-me olhos na fronte, na nuca, no peito, nos braços, nas pernas. Abre-me olhos na minha face invisível, impalpável. Desvela em mim os traços mal e bem traçados da minha linguagem, de mim mesma com testa franzida e sorriso solto, e quietude e inquietude latente. Abre-me janelas por todos os lados de mim, até no avesso, e faz vazar todas a etiquetas descartáveis, de números precisos, de instruções objetivas. Abre-me olhos de águia, faz-me visionário na escuridão. Faz-me ver estrelas e coordenadas e me descoordena diante da razão. Faz-me pensar sobre o que eu não pensei e o que pensei de outro modo e do mesmo modo que pensei e multiplica meus pensamentos sobre todo o desimportante que importo, puro malogro. Faz-me virar um mapa de terras desconhecidas, de conquistas sem data, de geografia serena e enlouquecida. Faz-me correr e parar e ofegar num jeito submisso insubmisso para outras ordens que ignora, ou pressente, ou simplesmente despreza, enquanto faz-me experimentar, experenciar amar, mesmo que ainda paire dúvida sobre o que é o amor, mas certo do amor. Faz-me angústia e melancolia por incerteza obrigatória, necessária. Faz-me agir em mim, retombar de ditos e não ditos de todo o tempo perdido e encontrado. Faz eco em mim, ressoa em mim, abraça em mim o abraço. A você se seguem todas as reticências dos impossíveis possíveis em mim. Seguem-se pontos, vírgulas, exclamações, interrogações do sentir. Maravilha-me você em mim...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Maravilha o seu texto.
Realmente! Grato por tantas impossíveis purezas! que me criam empatias não antes imaginadas!
È um previlégio poder ler seus textos e passivamente testemunhar a imensidão de uma alma!
Grato!
Keila! Coisa linda demais esta tradução intraduzível... Obrigada por mais um texto precioso!
Sensacional este poema disfarçado de prosa. Estou-lhe grato pelo prazer que me proporcionou uma vez mais em lê-la.
Keila, lindo, lindo, o sentimento de ser o texto, é possibilitado no aqui e agora, nic et nunc...
Tu estás em mim como eu estive no berço
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar
Mário Cesariny
Prima esse texto é simplismente um relato de um sentimento chamado AMOR, parabéns! é muito bom poder ter essa oportunidade de ler o que vc escreve, simplismente vem da pureza de sua alma!!!
Postar um comentário