sábado, 30 de agosto de 2014

Passarar

Por certo, parecia a ela banal aquela pergunta retumbante; ‘qual o sentido?’ A pergunta ecoava e seu coração era sonar; batia a pergunta no oco de sangue e reverberava por todo corpo uma música oleosa, azeitada, um cheiro acre e doce e um tato malfazejo. Sim, a música era um ecoar de sino sem igreja, uma agonia de vila sem habitantes. A cidadela parecia estar abandonada por séculos e também habitada por angústias, seres fantasmas em coro uníssono a repetir a mesma pergunta de sempre; ‘qual o sentido?’ Levara algum tempo a discutir com outra alma perguntadeira sobre a famigerada pergunta. Ela assegurou-lhe que bastava ficar alegre que sentido vinha. Fazia sentido a explicação sobre o sentido. Mas se sentido fosse já não seria sentido; explicado fosse seria motivo. Sentido era apenas sintoma ou causa? Sentido era o que tocava ou o que emanava sem tocar? Onde estava aquela abstração que para muitos parecia tão concreta e a outros sublime, etérea...E se não havia sentido, o que haveria? Ela então mudou a pergunta; por que não há sentido? Por que esta terra ficou desabitada e as flores a repeliam? Não havia garantias de significação no jogo de estar e ser. Tudo se convertia rapidamente em sonho de acordar e dormir; nada soava real. Às vezes vinha alegria, vinha sentido, mas tão breve e inconstante que sentido passarava em céu de estrelas caídas.

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