segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Na pele e no fundo

Toda gente, por certo, em algum momento da vida se pergunta sobre a existência do amor, sobre essa realidade cada vez mais parca, quase de infinito desaparecer. Por certo também alguns o cultuam e bradam em alto tom o amor que sonham, que almejam num lampejo de magia. Há outros também que subvertem os sentidos, quase os enganam em relações assépticas, formais no jeito de um rito permanente de disfarce. São faces de tantas interpretações quais sejam as que mais lhes convencem e com as quais se deparam. Certo é que há tantos mais; os divididos, os crucificados, os ilusionados, os usurpados, os esquecidos, os lembrados, os de carne viva, os de morte lenta. Mas de todos esses, e ainda dos que não são por falta de palavras, há os indiscretos; talvez os mais hábeis em forjar o significado da palavra amor. Roland Barthes disse em seus fragmentos amorosos dessa indiscrição, dessa morbidez do discurso amoroso, das peles, dos pêlos; essas vestes que escondem os músculos, os ossos e o líquido divino da vida; dessas vestes que nascem e morrem por instantes. Às mucosas, às peles molhadas Barthes não fez referência, talvez lhes resguardando a viva umidade que escapa ao olhar; ficam reservadas às secreções incontidas, espermas luzidios e inconstantes, salivações amalgamadas de visões e enganos, lágrimas de rios fumegantes tal qual crosta terrestre.

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