sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sentimentalidades

Não haveria porque desamar, porque não havia amado, e ainda assim havia o amor pressuposto, imaginado, realizado portanto. Amar não passava de uma ideia compartilhada ou imaginada, aberta aos sentidos vivos; cenas, audição, cheiros, gostos e toques; e aos sentidos esquecidos não haveria de dar importância. Sentidos esquecidos são a reta final; morte, e para quem imaginou ou viveu, eles estarão; os sentidos latentes ou florescentes na raiz da ideia amor. Tudo uma suposição na concretude dos sentidos; afinal só por eles se insurgem existências amorosas ou sonhadoras de amar. Os sentidos ilusionados também vivem, e qualquer desgosto se apaga pela lembrança do momento de sentir. Eternidade é um passo longo e nefasto; sentidos não podem se eternizar senão na imaginação; daí advém a repetição de quem abraça a ideia do amor, repetição com confeitos ou com ingredientes insuficientes; performances inovadores de sentir. O enquadramento geral repleto e descuidado; o close inundado de detalhes, apenas um fragmento. Cada filme do sentido, único. Todo filme uma especialidade; a descoberta dos ombros ou do pêlo indiscreto da sobrancelha. O cenário conhecido de tomadas já visitadas ou a locação recém descoberta, que nunca mais se verá.

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