Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Viagens
Há três tipos de viagem; aquelas em que excursionamos por lugares desconhecidos delimitados nos mapas, aquelas em que nos embrenhamos por nossos pensamentos ao ponto de chegarmos a lugares até inesperados, e a mais aventureira de todas; o sonho. Há quem diga sonhar acordado, mas aí é uma estratégia de pensamento. A viagem sonho mesmo não goza da racionalidade, pois que é da ordem do desejo ainda que inconsciente. Aqui não há limites afetos à realidade e sim o espaço fluido, as inversões, as contaminações de toda ordem; nada de assepcias. Ora, não era que ela sonhara assim com aquela figura aparentemente distante?! Pois que estavam os dois frente a frente em um encontro não marcado, distância de menos de meio metro, assentados frente a frente a dizer do quanto tempo...Ela tocou levemente a face dele, ao que ele registrou no ato saber que ela faria aquilo. O sonho era pois a constatação da expectativa imaginada do outro, a dizer dela, espelhada nele, e o que ficou na verdade foi simplesmente a sensação real provocada pelo toque no sonho; os dedos por sobre aquele rosto barbado. Em seguida, o beijo roubado ao lado da boca, tão próximo, que o registro poderia ser outro; uma prova inconfessável de um desejo avassalador. Mas não, apenas um beijo torto, enviesado, desejado, mas mal dado. Agora o mais surpreendente veio abaixo dos pés; aqueles felinos comprimidos sobre o piso incorreto em sobressalto.Quase dezena deles, aparentemente reais, até que já eram uma ninhada e sua mãe, até que começavam a virar figuras multicoloridas com rabos a pavão, jubas em leque. A realidade sumiu no sonho, perdeu totalmente a assepcia do real, o esperado da forma. Fez-se o sonho enfim; uma aventura inesperada. Seriam os felinos o desviar da incongruência daquele encontro irreal?! Seriam eles a verdadeira realidade da mente dela? A fantasia daquilo que subverte o real e, por fim, muito mais concreto na profundidade do olhar, a invenção do olhar? O encontro preto e branco a ganhar cor felina em efeitos surreais? Não à toa pode-se confundir sonho e arte; ambos sem as assepcias da realidade.
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