sábado, 17 de janeiro de 2009

Compressão

Sempre tivera a mania de ficar parada, não em repouso contido, mas em inércia. Para que entrar em movimento, se nenhum impulso era forte o bastante, suficientemente sedutor? Por que mover sequer uma fração do dedo, um metacarpo? Diziam que era depressão, que não havia motivo, que tudo era tão cheio de beleza, que tanto havia pra fazer e acontecer. Mas ela queria ficar quieta, como se nada a atingisse, uma pedra, posta, assentada em seu destino mineral. Que se desfizesse assim com o passar do tempo, ao sabor do vento escultor, da água e do ar e retomasse um rumo natural, assim pensava. Juravam-lhe inerte, não entreviam o turbilhão lá dentro; o futuro sonhado, quase memória; o passado que queria esquecer, relembrado a todo instante, definitivo; o presente vazio, no entrelugar. A confusão do estar aqui e agora e não estar, mente solta presa nos idos e no porvir. Disseram-lhe para não pensar demais, para abstrair os insucessos, os infortúnios fatais, os desamores. Mas era tudo feito cria no ventre, de estágios embrionários e finais, provocando a compressão dos órgãos e da mente, fazendo entremeio, ligando pontas improváveis até, passado e futuro enlaçados, comprimindo o presente. Descubrira que a ausência de mover era o próprio entrelugar, o ínfimo instante entre o que foi e o que viria. Não o entrelugar móvel, passagem, sem paradeiro, mas o entre indeciso, alheio do presente, fincado entre memórias e expectativas.

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