quarta-feira, 20 de maio de 2009

Triângulo em descompasso

Novamente ele vinha ocupar os espaços nos seus sonhos de natureza confusa e repetida. Quando vinha o sono profundo, era feito uma espécie de morte; quando vinha o sono breve, era uma tormenta, semelhante ao que ocorre nos delírios de doenças, quase alucinações. O fato é, ele retornava sempre nessa morte ou neste tumulto dela ao dormir. E na última vez veio familiar e estranho em uma terra distante, o sertão de seus antepassados, e de muitos que ainda não passaram. A casa era ocre, toda ela parecia uma terra erodida, não havia móveis e o ar tinha um peso, uma densidade de pó em suspensão. Todos se falavam, mas não pareciam ter intimidade, senão o parentesco. Ela ligava-se a ele de forma persistente mas sem toques; os dois pareciam não interagir com os habitantes da casa, senão entre eles mesmos e com uma weimaraner de olhos claros, de pupilas retintas, quase dois buracos negros. Ele e a cadela cinzenta se afastaram num dado momento e de longe ela os olhava, até que surgiu pretinha entre os dois. A weimaraner os seguia, ele e a pretinha, indefinidamente por todos os cantos da casa, grudava-se ansiosa a eles, não compreendia aquela interposição inusitada, irritante. Uma cena de ciúmes e provocação ali diante de seus olhos em sonho a fez desesperar e acordar e perguntar? Por que ele apareceu de novo e neste triângulo em descompasso?

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