Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Cansara-se
Cansara-se daquela boca entreaberta, nem palavra nem silêncio. Cansara-se daquele dito ínfimo, quase balbuciado, cheio de crispas, mal dizeres escondidos. Cansara-se daqueles dentes cerrados, apertados a impedir a saída do som límpido e libertado. Cansara-se de ter ao lado um não quisto, um quisto indelével, impertinente, quase um nada vestido de tudo, com poses dominantes, olhares foscos, irritantemente olhares, olhares sem querer; só obrigação, numa espécie de comiseração necessária, incontrolável. A face dele tinha mudado nos últimos tempos...ou será que ela não o enxergara antes? Realmente não sabia o que acontecera, mas tinha suas náuseas estomacais aumentadas e um tilintar na cabeça e uma dor no coração que se rompia em lágrimas engolidas, feito cachoeira virando poço fundo, sem saída. Ela queria entender como ele se transformara assim, ou se sempre fora o imperceptível...a mancha escondida naquele ar de todos os dias, um ar desgastado e corrompido por interesses pessoais, desumanizado...de peças carcomidas, enferrujadas pela ausência do lubrificante carinho e respeito.
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