quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cortejo de risos em Nossa Senhora

Os pingos de chuva desciam na coreografia do vento. Fria e copiosa, a chuva, às vezes branda, era persistente. A rua Nossa Senhora de Copacabana se estendia até o sem fim e na procura da estação do metrô Siqueira Campos a moça menina de véu branco, contas pretas no colo e vestidinho curto de motivos indianos, esgueirava-se por entre as raras sombrinhas, posto que a maior parte dos passantes preferiam as marquises e as corridas nos intervalos. Uns iam bem agasalhados, outros em clima de praia; todos confusos diante do choro do céu e da ventania.

Marcinha pequenina ia na cadência de suas canelas finas, ligeiramente arqueadas e ágeis, na liderança das outras duas. Estas iam sempre atrasadas a sorrir e se lamentar do tempo ruim, principalmente porque a caminhada sucedera um considerável prato feito de carne de panela e aipim; isto depois de um banho de mar morno regado à chuva friinha bem na pontinha da praia, beirando as rochosas do Arpoador, e da providencial banana debaixo dos cavaletes pra pranchas na calçada. Pareciam três meninas desavisadas, em busca do mar, na fuga da chuva; teimosas e insistentes com o tempo, no eterno esperar do sol, mas sinceramente desapontadas.

Até que em uma das quadras, quase no meio da romaria em Nossa Senhora, deu-se o curioso sorriso do mendigo, digno de lembrança. Marcinha de véu suscitou risos incontroláveis no figura ali meio deitado, barbas compridas e pele morena, e as companheiras pegaram ele no ponto e sorriram também da corrida da menina do véu. Não se sabe ao certo que grotesco ele percebeu, se a figura misturada, se o ritmo, se o cortejo nada religioso em meio à multidão, mas gargalhou deliciosamente e fez da chuva um riso...

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