segunda-feira, 30 de março de 2015

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Um dia perguntaram a ela o porquê de sua preferência pelos animais não humanos. Ela pensou bem e tentou com muita força duvidar de si mesma. Voltou ao animal do próprio humano, tentando nele encontrar as mesmas virtudes dos não humanos em vão. O animal no humano vinha com face endurecida, quase somente em momentos de fuga e defesa. A face espontânea, lúdica, ou até mesmo nas essencialidades; no alimentar, no reproduzir, no descansar e levantar, escapavam do humano. As pessoas estavam sempre em busca dos manuais porque desentendiam de tudo o que nelas lembrava instinto. Envergonhavam-se daquele esticar do corpo fora das academias; dedicavam-se exclusivamente aos bocejos em momentos de absoluta fadiga e tédio. O corpo ia endurecendo, enguiçando antes do tempo. Fatalmente a última recomendação seria o repouso. A falta de estímulos naturais do dia a dia enterrava o humano em um torpor quebradiço por falta de minerais, falta de essencialidades e brincadeiras. O humano se esquecia do código, das possibilidades marcadas; orgânicas. Nunca mais se lembrava, fingia que era máquina até obsolescer em si mesmo.

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