Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 23 de março de 2015
Mineral
Um desejo mineral a perseguia desde tempos imemoriais. Havia um linguista russo que dizia sobre esse desejo humano fatalmente expresso no seu linguajar, no seu agir. Talvez uma necessidade de permanência mais duradoura jogasse o humano nessa vontade inaudita; desejo, pensava.Voltava-se pois a sua aparente forma orgânica, aos tecidos epiteliais que a abandonavam diariamente, e para os quais não havia garantia de substituto à altura. Restavam sucessos, insucessos e mutações favoráveis e desfavoráveis. Enquanto isso, estava lá o mineral absoluto, gasto ao longo tempo, com uma organização estável, tão apropriado para as investidas da arqueologia, das datações. Agora a investida na organicidade era abismal, um buraco sem fundo repleto de camadas justapostas em permanente mutação. Então esse desejo mineral devia ser sinal do medo do precipício que sempre a perseguia.
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