segunda-feira, 23 de março de 2015

Mineral

Um desejo mineral a perseguia desde tempos imemoriais. Havia um linguista russo que dizia sobre esse desejo humano fatalmente expresso no seu linguajar, no seu agir. Talvez uma necessidade de permanência mais duradoura jogasse o humano nessa vontade inaudita; desejo, pensava.Voltava-se pois a sua aparente forma orgânica, aos tecidos epiteliais que a abandonavam diariamente, e para os quais não havia garantia de substituto à altura. Restavam sucessos, insucessos e mutações favoráveis e desfavoráveis. Enquanto isso, estava lá o mineral absoluto, gasto ao longo tempo, com uma organização estável, tão apropriado para as investidas da arqueologia, das datações. Agora a investida na organicidade era abismal, um buraco sem fundo repleto de camadas justapostas em permanente mutação. Então esse desejo mineral devia ser sinal do medo do precipício que sempre a perseguia.

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