Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 26 de março de 2015
Cegueira
Nunca pensara que estivesse acima de qualquer suspeita. A própria palavra suspeita já remetia a essa suspensão, esse incerto de ser, ainda que se esforçasse em direção a uma conduta minimamente amigável, gentil. E tudo eram apenas instantes; uma virada de torso, de um olhar, e a oportunidade da gentileza escapara. Ou seria responsabilidade, responsabilidade pelo outro? Não fora intencional aquela ausência de gesto, senão uma distração perversa que sempre a tomava; pensamentos. Pra completar veio aquela bengala tecnológica a perscrutar aquela rua e os óculos meio cibernéticos. Ela jurara que o cego tinha algum apoio que fosse mais do que ela por ínfimos segundos, até que chegou alguém mais sensato e se dignou a atravessá-lo nos moldes analógicos. Ela então fizera parte da cena e saíra com o coração meio apertado pela falta de prontidão; gentileza.
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