segunda-feira, 14 de julho de 2014

Ecoar silêncio

Duas sabedorias: silenciar e não esperar. Não seria fácil aprendê-las, mas por força de viver e não sobreviver teria que se esforçar para tanto. Talvez o silêncio fosse mais complexo atingir do que a falta de expectativas. Esperar constante leva a um desgaste emocional e físico, a um não ser estar, que termina por apagar, enfraquecer qualquer que seja. Leva tempo aprender não esperar, mas torna-se forçoso com o passar dos anos. Tão forçoso que a leveza paira insolente, parece brisa em folha seca. Os anos trazem isso; brisa em folha seca, porque coração já palpitou, imaginação já inventou possibilidades, incontáveis cenas. Aí vem a fadiga que vira a expectativa do avesso. Agora o silêncio; esse é tão alto ou tão baixo, que assusta. A palavra pula da boca feito gafanhoto na planta, praga. A linguagem assume gesto que tem palavra. A linguagem, mesmo irrefletida, era você e eu no jogo da inconsistência, nos desentendimentos a tentar compreender. A linguagem, por certo, era tentativa de compreender. Mas silêncio não; silenciar era transcender, era reconhecer o não dito explícito, pornográfico vazio que a própria linguagem não abarca. Silenciar é constatar a dubiedade, o contraditório de tudo que se afirma, do senso comum ou incomum, menos ou mais elaborado. Silenciar é virar grito, é ecoar nas paredes orgânicas para desaperceber a materialidade em qualquer seja. Silenciar é ecoar pros ouvidos surdos, e fazer neles uma criação redimida das ideias permanentes.

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