sexta-feira, 3 de outubro de 2008

'Urgência sem pressa'

Quanto em mim é urgente? E em ti? Saberia me dizer? E essa palavra tão apressada, é mesmo insustentável, grita em toda potência do som? Não seria ela, apenas um sopro delicado, uma melodia de flauta, doce e persistente? Não saberia dizer exato o status de nenhuma palavra, posto serem meras suposições, e se as pensamos repetidamente, vemo-las duvidosas, dependentes umas das outras, fluidas, rios, quase inconstantes. E nós mesmos não somos essas palavras que insistem em nós? Nesse momento, é a urgência da expressão...Deveríamos ter tanta pressa, sob pena de fazer de nossas urgências desatinos? Poderíamos então recair também na fluidez do desatino...Mas volto, sob pena de me perder indefinidamente. Será que a urgência sem pressa é só prerrogativa divina, tal qual anunciou Riobaldo em Grande Sertão Veredas? “Deus é urgente sem pressa.” Talvez...Agora me vem a urgência do quase certo, desse absoluto que se insinua na gente, feito planta trepadeira ou erva daninha. Segue-se ou antecede-se na urgência desatino, inimiga do saber do tempo. Tudo pelo medo das convicções; será que as temos? Se as tivéssemos certamente não seríamos urgentes apressados, teríamos a urgência convicta, amiga do tempo e de suas confirmações, até vir o grande acontecer, aquilo que esperamos verdadeiro, sem pressa.

Um comentário:

Flávia disse...

Ontem mesmo, tive o seguinte diálogo com uma pessoa muito especial:

ele: voce tem pressa?
eu: o que?
ele: você tem pressa?
eu: pressa de quê?
ele: exato. Pressa de quê?


E é isso... pressa de quê? não temos pressa... mas a urgência um do outro, do "nós", essa temos...

Beijos