terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Arraial

Sempre julguei o prenome de Arraial como algo pequenino, acolhedor, genuíno no jeito de falar, de postar-se diante de alguém como quem faz uma gentileza, um agrado desses do interior muito mais de dentro da gente do que de uma contingência geográfica. E assim parti para mais uma viagem com minha amiga Vi. Disseram-me que era Arraial D’Ajuda, mas confesso que o contingente turístico não permitiu tanta ajuda assim, embora não deva negar a ajuda de alguns. Disseram-me também que estava na Bahia, meu vizinho aqui de Minas, da maneira do Norte, dos sarapatéus, bobós, tapiocas, vermelhos e axés. Estive lá sim, porém senti falta do sotaque exagerado, preguiçoso baiano como ninar de rede em todos os cantos. Fiquei procurando a Bahia dos meus sonhos. Terminei ouvindo baianês, sons latinos e europeus; visitei avenida elegante de suveniers, roupagens e petiscos italianos, argentinos e tantos outros no arraial. Esperei um rodízio de massa na única mesa redonda do Mr. Pastas argentino; só esperei, mas comi um delicioso bolinho de aipim com camarão na barraca de um migrante mineiro lá em Pitinga. Vi pôr do sol na barraca do Parracho ao som axé ‘contaminado’ de tantos outros suingues, guitarras e tribo em festa. Mergulhei em mar de água mansa Mucugê, de onda que quebra em coral e vem balançar a gente em remanso leve. Vi azul de todos os tons de mar e céu, conheci gente do Albergue, da rua e do mar, do quarto de dormir, Marisa, Jana e Solange, gente de correr e subir a ladeira, gente de acolher e gritar e cantar. Não visitei um Arraial, visitei uma vereda de contingentes imensos, distantes, próximos; um sertão que virou mar, se perdeu mar por tantos que chegaram. E eu desavisada, não desesperei, esperei até o último instante o Arraial e ele estava lá imponente por trás, em detalhes que talvez me escaparam, na história que se fez. Agora, pensando bem, o Arraial está aqui, está lá...Arraial é dentro da gente mesmo, no desejo dos encontros de verdade, dos encantos. Confundi-me no entrelugar, nessa ânsia da procura de um único lugar que não existe, de nacionalidade precisa, de modo exato, que faz a gente querer congelar o instante, na busca de uma identidade que se desfaz em multiplicidade inevitável.

5 comentários:

Anônimo disse...

A gente nunca sabe mesmo o que vai encontrar, né não? Ou o que encontra nunca é o que imagina... no caminho surpresas, sempre! Se fosse assim, não haveria Ilha Grande, Rodrigo Grande e eu aqui "viajando", hehehe

Feliz 2009 pra vc!

Unknown disse...

Maravilha!!!
Lindo...bjus

Unknown disse...

Sabe eu estava pensando...até aqui...sempre parceiras né?!

Anônimo disse...

Nossa Keiloca, espetacular seu texto!!! Fiquei imaginando a cena cada frase que vc escreveu!!!
Uma pena que não deu para eu ir ... Mais terão outras viagens ...
Um beijo enorme!!!

Anônimo disse...

Keila adoro seus textos. Doces e singelas formas de expressar suas observações.Você é sem dúvida muito talentosa.
Bjos!!!