Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Intruso bem vindo
Ninguém mais que Nietzsche tem me aproximado tanto do entrelugar. Minhas releituras de parte de sua obra me tocam agora de tal maneira, que a inquietação quase me sufoca. Talvez seja o ‘espírito livre nietzscheniano’ a me cutucar de forma insistente. E essa transmutação em direção ao desapego das coisas sem importância é dolorosa de fato, porque, simplesmente, não parecem sem importância; o sentir se confunde no entrelugar. E como o parecer nos assola nestes tempos de pós-modernidade ainda com mais força. O ser, de fato, cada vez menos importa, e isso é atualmente alavancado com força total pela difusão descontrolada das imagens e da reprodução de objetos de consumo, cada vez mais voláteis. Creio que seja um dos principais motes da psicanálise tratar exatamente dessas escalas de valores morais e da organização social que absorvemos durante a vida, e que, constantemente, enganam-nos, porque ‘se prestam’ a preencher falhas muito mais profundas, que negamos mesmo que inconscientemente existir. E a filosofia é esse ponto transdisciplinar estimulante do pensar além do orgânico, além do individual, para exatamente alcançar o indivíduo naquilo que ele tem de mais essencial. Todo o organismo se ressente e se abate por força até do pensamento do desligamento daquilo que os valores sociais engendraram e nós introjetamos de forma quase irremediável. E o espírito livre é esse ponto de instabilidade, de inconformidade para os olhos dos outros e até da gente mesmo. Talvez proximamente faça uma ode ao espírito livre, este intruso bem vindo do entrelugar contraditório, angustiante, doloroso, apaixonante e libertador.
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