segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Episódio de infância

A infância, fase curiosa da vida, faz-me lembrar alguns acontecimentos engraçados. Um desses episódios, particularmente interessante, solidificou-se em minha mente e até hoje provoca-me risos.

Era costumeiro receber, em casa, nos finais de semana, a visita de tias e primos. Os primos, Patrícia e Fabiano, eram anúncio de brincadeiras e aventuras; enquanto as tias, respeitáveis educadoras, constituíam obstáculos mais ou menos transponíveis às nossas levadezas.

Havia uma vizinha, dona Benita, que tinha em seu quintal um balanço feito de cordas e tábua de madeira, sustentado por uma goiabeira. As goiabas não eram lá essas coisas... Na verdade, eram meio raquíticas e não estava na época delas. Mas o balanço... Ah! Aquele balanço! Nós, eu e meus primos, adorávamos balanços! E foi numa ensolarada tarde de sábado que tudo aconteceu!

Patrícia, Fabiano e eu entramos na casa de dona Benita, às escondidas, e evidentemente, sem o consentimento de nossas mães. Após nos divertirmos algum tempo com as delícias daquele quintal, parecido com aqueles de casas do interior, Fabiano, o único menino e o mais corajoso dos três, convenceu-nos de que subíssemos no telhado da garagem de dona Benita. Os meninos são como aranhas, amantes das alturas e das cordas bambas...O que mais me indignava era a familiaridade que tinham com as escaladas, e pior, quase sempre saíam ilesos!

Fabiano, o guia da subida, conduziu-nos ao telhado, que era de amianto. Eu, a mais velha da turma, fui advertida de que a maior parte das telhas estavam podres e portanto, era necessário tomarmos cuidado. A priminha Patrícia, lá pelos seus cinco anos de idade, sendo a última da fila, não seguiu as instruções do nosso perito em aventuras. Deu um passo precipitado, a telha se rompeu e prima Patrícia caiu dentro da garagem. Foi um “Deus nos acuda”! Eu e Fabiano não sabíamos o que fazer. Enquanto isso, Patrícia chorava sem parar.

Não tardou e o choro da menina atraiu algumas pessoas, e também as mães enganadas. Deram início ao resgate, através do buraco recém inaugurado, por intermédio de uma escada, já que a dona da casa encontrava-se em um velório e tinha levado as chaves. Patrícia caiu sobre um carro, amortecendo sua queda, mas saiu de lá roxa de tanto chorar! A polêmica foi grande! Eu e Fabiano fomos responsabilizados pela tragédia, pois éramos os mais velhos.

A sorte é que a vizinha não estava lá quando tudo aconteceu, mas quando soube fez um discurso inflamado na porta de minha casa. Dizia ser viúva e que não podia arcar com tamanho prejuízo. Nossas mães, contrariadas, resolveram fazer uma “vaquinha”, mesmo considerando o péssimo estado do telhado que de qualquer maneira desmoronaria. Eu e meus primos nunca mais ousamos entrar naquele quintal!

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