Esse par de cartilagens retorcidas, a que alguns chamam orelhas, pavilhões auditivos, e até abanos, têm dado o que fazer nestes últimos dias. Confesso que não era totalmente indiferente às orelhas e que até lembro-me, parcialmente, de algumas de suas estruturas, quando das minhas incursões pela anatomia dos mamíferos há alguns anos. Mas agora as orelhas, as humanas, têm me provocado uma inquietação inestimável. Tudo começou, despretensiosamente, quando a amiga Ana Paula, de tempos idos e vindos, chamou-me para fazer um curso de Aurículo Acupuntura. Topei. Para surpresa minha os detalhes anatômicos da orelha, a despeito de toda sua ligação surpreendente com cada parte do corpo, provocou-me instintos não só médicos, mas poéticos. Primeiro porque os pontos, denominados acupuntos, ligados formam a figura exata de um feto de cabeça para baixo.
Assim, ao tocar uma orelha nas aulas práticas percebi que mais que um ponto erótico e de audição, havia cérebro e vísceras. E que, portanto, ao tocar uma orelha devemos ter a rigidez e a delicadeza de uma mãe. Tornou-se claro não em minha mente, mas em meu coração, onde mora a consciência, tal qual os chineses acreditam, que quando o nosso corpo cresce, carregamos em nós fetos; os sentimentos de nossa origem. Por isso, orelhas são tão sensíveis e o som ao passar por elas ganha os contornos das nossas vivências, das nossas memórias. Curiosamente, as palavras deslizam por uma estrutura chamada incisura intertrágica, uma depressão bem na parte inferior da orelha, próxima ao conduto auditivo. Talvez por isso mesmo os dizeres ganhem em nós tanta expressão e nos façam cometer tragédias e até as tragicomédias; tudo por culpa da boca, ginasta hábil para diversos assuntos de ordem sentimental, professoral e nutritivos.
Bem, é possível fazer um tratado sobre orelhas, tamanha a complexidade dessa estrutura tão discreta que, às vezes, nem percebemos. Mas o que me preocupa agora é que meus olhos se miram nas orelhas sem que eu nem perceba. Olho para elas com a pretensão de perceber os fatos e emoções daquele feto invertido dos mapas de acupuntura, aquela figura frágil enraizada na cabeça de cada um.
4 comentários:
Ei Keila. Quanto tempo. Passei aqui pra dizer um 'oi' e que tá legal seu blog. Bom saber de seu interesse pelas orelhas, eu mesmo já usufrui bastante de suas virtudes...rs.Fique à vontade para visitar o Supra Sensorial também, ok? Um bjo e vamo que vamo.
Eu já fiz massagem uma vez...e foi colocado pontos em minha orelha...para que eu pudesse massegea-los...e aliviar a dor!!
Abril/2006...meu pescoço endureceu de tal forma...lembra?rsrs Só injeção para aliviar.
Mas, nunca imaginei q os pontos tivessem ligação com o estado fetal...ou com essa simbologia!!
Super interessante. É muito interessante...toda essa cultura!
Bjus
Isso aí Keila: vamos acaricar as orelhinhas da rapaziada...rs.
Parabéns pelo blog (enfim!)
Abç
Leo Coelho
tento, mas não posso agora me concentrar nas orelhas...sua escrita não me deixou alternativa...lindo texto, abraços
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