“Barracas, Tylenol e Gargalhadas” poderia até ser a síntese desse acampamento em Ilha Grande. Seria bom se pudéssemos dar um tom cinematográfico ao estilo do filme “Cinema, Aspirinas e Urubus” nessa história, mas faltariam componentes essenciais de grande parte dela. Primeiro que nosso encontro não foi ‘coisa do destino’, a menos que o compreendamos de forma uma pouco mais flexível e programável. Depois, não pretendíamos mesmo fazer um filme, embora o tenhamos feito. A paisagem não era o sertão, mas antes uma grande ilha cheia de água e peixes. E a pergunta sempre soava: Vai pra ilha? perguntava em tom de descrença a mãe de Keila. Mãe, já viu, fica sempre desconfiada com viagens longas, ainda mais de barco e para acampar. E pior: dizia que Keila ia dar o último suspiro na ilha, pois andava reclamando de cansaço. Mas não teve jeito, Keila “se acendeu” pela Ilha de tal forma, que iria mesmo se fosse para dar o tal último suspiro.
Quando chegaram em Angra, de onde seguiriam para a ilha, as mineiras Keila e Viviane, se encontraram com a turma. Eram nove; uns vindos do Rio e outros de São Paulo. Estava feita a mistura bombástica: café com leite e açaí. É bem verdade que a política do café com leite já não vigora, e hoje está muito mais para cuscuz com café e leite de vez em quando, mas como todos não se furtaram na ilha de tomar o café, o leite e o açaí, fica assim mesmo e incompleto, porque no final chegou até um Guatemalteco, para o qual não saberíamos escolher um sabor. As apresentações foram feitas lá na rodoviária de Angra, de onde seguiram para a Vila do Abraão, que diziam ser a capital da Ilha.
Keila já acampara algumas vezes; não em um Camping. Viviane não; foi a vez do batismo. Para a viagem à Ilha Grande, o combinado foi acampar lá no Peixoto; camping familiar, cercado, vestiários amplos, feminino e masculino, e até cozinha para fazer o rango. A idéia da viagem veio embalada com o final de ano e com a empolgação da carioca Rhany, amiga de Viviane. Para a surpresa de Vivi e Keila, Rhany trouxe para acampar mais seis: Igor, Daniel, Daniel Sandoval, Otávio, Ana e Mariana. O da Guatemala, José, chegou mais tarde e pegou o lugar do paulista Otávio, sem dúvida, um ator fundamental que precisou sair mais cedo da acampamento.
O primeiro contato com o Otávio em direção ao cais não foi dos mais “amigáveis”. Ele carregava um certo ar de megalopolitano e nós ditas provincianas de um Belo Horizonte, que nem existe mais, ríamos da sua soberba nem um pouco disfarçada. Curioso é que aos poucos ele se tornou o Tatá, pode? Reduziu sua soberba significativamente e começou a destilar seu jeito brincalhão e impertinente. Ele era o garoto da rede; pra onde ia levava aquela cama móvel, bem dobradinha, com ganchinhos e tudo! Chegava, armava a redinha e deitava em toda praia que aportávamos. A rede parecia feita para ele.
Em Palmas, Rhany resolveu experimentar o balanço da rede de Otávio e se deu mal; atravessou-a atrapalhadamente e caiu. Tinha jeito não; a rede era mesmo do Otávio. Aliás, Rhany era quem liderava o grupo; além de querer se meter em tudo, até na rede do Otávio, pensava e organizava os passeios. Era daquelas pessoas para se contar, para se divertir, num vamos galera nem tanto incisivo, mas que nos obrigava a sempre ir; e ninguém se arrependeu. Ela programou a trilha para Lopes Mendes, o passeio de barco, levou a barraca para as campesinas mineiras e não deixou de fotografar sequer um momento da viagem e várias vezes posava de Tieta do Agreste, como dizia Otávio.
Os paulistas de nascença e moradia eram majoritários na turma e davam o seu tom de garoa e trampo. Daniel Sandoval, nascido em Fernandópolis, interior paulista, agora morador do Rio, era o ginasta da turma. Teimava em dar cambalhotas sucessivas no ar, desde nossa primeira incursão, na Praia Preta. Dizia que tinha o joelho problemático, mas não resistia, virava de ponta cabeça no mar, na areia e terminava a performance orgulhoso. Sandoval era quem buscava as trilhas sonoras, entra elas “É o amorrrr”. E tinha mais; se empolgava e achava que as meninas eram ginastas também. Teimava em puxá-las como brinquedinhos de borracha na praia. Já o Daniel, irmão do Igor, era bem mais tranqüilo. Enquanto os outros se envolviam com criancices de toda sorte, ele ficava observando até aonde aquilo ia dar. Ele era, sem dúvida, a gentileza do acampamento e braço direito da Rhany no acerto das programações.
Como não poderia deixar de ser teve namorico no acampamento. Igor e Viviane foram os protagonistas. Os beijos começarem logo na primeira noite de ‘bebericagens’ e se seguiram pelas demais. Como diria outra vez o Otávio: eram os namorados Loirão e Igor. O Igor era um cara legal, mas não muito afeto a brincadeiras indiscretas e muito menos as insistentes. Por isso, andou ‘sofrendo’ um pouco nesses dias. E Vivi não deixava de retrucá-lo vez por outra em suas considerações. Poderíamos dizer que tinham algumas incompatibilidades que não prejudicavam os beijos. Combinaram até umas sete coisinhas na virada do ano, que despertou a curiosidade de todos; provavelmente bem diferentes dos sete pulinhos na beira da praia. Além disso, Igor esperava pacientemente por Vivi, sempre a última a terminar de se arrumar para as saídas da turma.
As paulistas Ana e Mariana eram as guardiãs dos recipientes alcoólicos e alguns petiscos. Qualquer tentativa de utilizar a varandinha de sua barraca era terminantemente proibida; já que lá era reservado para as “nobres vodkas” e comidinhas. Mariana era também prática e empreendedora, mas deixou o cargo para Rhany mesmo. Ana era cuidadosa com o visual, sempre antenada com a moda, desfilava pela Ilha seus vestidinhos originais. Na trilha para Lopes Mendes esteve a beira de uma “parada respiratória”, mas contou com Keila, Viviane e Mariana, no segundo grupo. Chegaram uns vinte ou trinta minutos depois do primeiro grupo e para felicidade de todos decidiram retornar de barco mesmo; graças a Deus!
O silêncio era obrigatório no acampamento a partir das dez, mas não tinha como evitar as gargalhadas na chegada das farras, os rodízios de dormida entre as barracas, a manutenção dos colchões de ar, as nuvens de mosquitos, os repelentes sumidos e outros objetos perdidos, e outras surpresas dia e madrugada afora. Um dos nossos vizinhos mais agitados dizia certa noite: “roubaram o meu atum” e as gargalhadas se propagaram por muitos minutos, muito depois das dez. Bem, nós não levamos atum e não roubaram nada das nossas barracas. Nesse camping só devia ter ladrão de atum.
Um comentário:
Será...que vou fazer um comentário pra cada texto.rsrsrs
Amiga...só sei que me identifico muito com seus textos...amú.rs
Nem é pq sou personagem em alguns não.rsrs
Fico muito feliz...por ter um "dedinho" nessa sua decisão de postar os textos.
Acredite, a internet bem utilizada é o melhor meio de comunicação que temos. Não há barreiras...isso é incrível. Orkut, msn, blog...só devem ser bem utilizados...é uma forma de exposição sim!! Mas, vc escolhe...até onde e como e expor...e eu acredito que até a exposição pode ser saudável.Parabéns
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