Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Presságio
“Tens realmente faces encantadoras”, destilou em sua carta de amor. Era um amor à espreita, quase espectador. Ela lhe parecia um filme de carne e osso e “olhares sedutores”, que sequer o miravam. Melinda o achava feio, sem graça, e nem todas as palavras a tocariam. Nunca havia sentido o sabor do beijo de qualquer rapaz, somente as mãos entrelaçadas, o tato lábio; mas o moço das cartas parecia-lhe improvável, quase ingênuo. Casou-se tempos depois; casamento sem beijos, sem abraços e dezena de filhos e dezenas de anos. As cartas e poesias de amor sem igual ficaram na mente de Melinda. Até hoje ela recita os versos e se lamenta dos beijos que viriam, dos toques daquele moço, do presságio das palavras.
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