Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Devíamos
Devíamos sempre respirar fundo antes de dizer qualquer palavra, ainda que em momentos emergentes, quando não dá pra adiar porque ela vem solta e cheia de emoção. Devíamos ponderar mais para evitar o imponderável de nós mesmos em desatino. Devíamos soletrar a palavra pra nós mesmos ou encontrar um buraco escuro e gritar para ver que tom adquire, que vida cria ou mata. Devíamos ser mais avisados da navalha dos fonemas reunidos, dos cortes insanos forjados entre mente, língua e coração. Devíamos até ponderar o aparente imponderável, porque a reflexão é doída, mas leva a lugares enormes, distantes e tão completamente outros, que o dito fica subversivo, parco, excessivo para pouco, incompreensível depois de algum tempo. Devíamos evitar a confusão entre palavra e sentir, por mais que ela tente dizer do sentir. Devíamos nos conter, inspirar profundo, engolir, saborear, deglutir, ruminar como um bovino, calmamente em pasto largo sob a luz ou o sereno a espera de uma digesta mais elaborada, finamente cortada pra virar um nutriente precioso do diálogo. Devíamos, mas raramente somos dever ser, somos apenas ser.
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