Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Incompletudes
Ela sofria de incompletudes; mas não eram incompletudes quaisquer...eram máximas de tão mínimas, corpos em detalhes. E nos dias frios ela se abraçava num instinto natural de conservação, na busca do aconchego, do calor, no receio de petrificar. Não que virar rocha soasse inóspito. Muito pelo contrário; parecia-lhe, por vezes, que ser mineral era até um desejo muito humano; estar lá ao sabor do vento, perfeitamente integrado e vivo a despeito da aparente imobilidade. Mas incompletude mesmo era coisa orgânica; a superfície tão repleta dos objetos e ideais de posse, e as profundezas, cheias de nada. Ela sofria de incompletudes, mas cria cada vez mais nesse compartilhamento de nada, do nada. O amor deveria ser assim, o compartilhar das falhas, dos vazios em abismo, das profundezas. Era o nada e não o tudo que fazia realmente o movimento dos afetos.
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