Histórias sempre estão na fronteira; por mais que tentemos acomodá-las elas esbarram no real vivido, ouvido, lembrado; elas esbarram no imaginado, sonhado, criado...por isso evocamos os entrelugares, onde cabem o contraditório, o surpreendente e até o esperado...todos eles permissíveis à intromissão do eu e também à sua ausência, mesmo disfarçada.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
A casa da novena
Era um quadrado a casa da novena. Quatro lados iguais, nem um milímetro a menos, nem a mais. Duas janelas caindo na rua, portão lateral e fronte alta. Iam lá quatro senhoras todas as tardes, quase ao sair do crepúsculo. Levavam terço na mão e fôlego para quase centena de Ave Marias, Pai Nossos, Salve Rainhas e Glórias ao Pai no estilo mais católico. As irmãs Dora, Flora e Aurora sempre de vestidinhos floridos, colo e joelhos bem protegidos, eram convictas de sua missão junto a Deus Pai todo poderoso. Acreditavam no poder da reza e achavam mesmo que quanto mais numerosa a ladainha mais graças viriam. Marieta, prima meio desgarrada, aderira à novena fazia poucas semanas. Não descuidava de exibir seu colo amplo, mamas insinuantes e pedaços das pernas, nem na casa da novena. Aderira também a centros espíritas de mesa, umbanda, seitas, cartomantes, beberagens de ervas, Jesus cristos ressuscitados e pastores empresários. Tinha todos os motivos possíveis. Ia mal de dinheiro, de amor. As irmãs carolas a olhavam com compaixão, como se fosse uma ovelha recém recuperada, com vícios ainda vivos e desejos nada nobres, beirando o pecado. Mas a aceitavam mesmo assim, para fortificar a reza e chegar mais alto aos ouvidos de Deus Pai todo poderoso.
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