sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Pequeno ensaio sobre prosa e poesia

Para essa já repetida discussão me coloco, ou melhor, não me coloco. Se por vezes ouço falar de prosa e poesia me confundo sobre o estatuto do verso e dos parágrafos, e não julgo quem faz prosa poética ou poesia prosaica, se é que alguém já instituiu essa última categoria. Curiosamente, a poesia caberia na prosa e a prosa não caberia na poesia. Seriam compartimentos compatíveis e incompatíveis, matematicamente o contém e o não contém. Ora, poderíamos então dizer que a prosa é comum, vulgar, ordinária? E assim elevaríamos os poetas, como fazedores de combinações mágicas, surpreendentes? E o comum da fala, do prosear tão humano ficaria totalmente distanciado dos ditos metafóricos, das comparações inevitáveis, do sentimento que nomeia, do nome, que antes de tudo é um arremedo da razão sem razão? Vamos supor assim a prosa limpa, a poesia limpa; uma tentativa vã, porque até o silêncio é a poesia do nada e do tudo, é a prosa do não e do sim. O que diremos então dos gestos e dos ditos que anunciam e que silenciam? E das rimas do dia-a-dia, do acaso como “Bom Dia Maria!” E a poesia concreta que se legitima pelo vazio no papel, pela repetição, às vezes irritante dos zumbidos Tum, Tum, Tum, Tumumumumummmm????!!!! E onde ficam os diálogos, a imaginação algumas vezes dúbia, fruto do desejo, do sonho inevitável que preenche os vazios de poesia? Desse falar com o outro tão “prosaico”, calculado, e que de tão medido revela a si, em si o que se quer esconder? Impossível não pensar nas fronteiras, na delicadeza das fronteiras, no que elas têm de mais belo, porque são a tentativa mais humana e desumana de separar, de fazer compreender algo, para depois se desfazerem em sua fragilidade.

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