Só ontem soube de uma versão mais completa da história. Tratava-se de um garoto assassinado na última terça-feira no meu bairro, morador da minha rua. O acontecimento chegou-me aos ouvidos de variadas formas.
A primeira versão foi da minha mãe: “foi morto próximo ao mercado e parece, por drogas”. Aquela velha história de gente marcada para morrer nos tempos modernos por consumo ou venda de anestésicos alucinógenos. O fato é: passamos um bom tempo discutindo sobre quem seria o garoto, se da terceira ou da sexta casa na seqüência da nossa.
Ficamos sinceramente indignadas com o fato, mas com muitas dúvidas sobre a veracidade das informações, quando veio a segunda versão: “Tinha 19 anos, retornava do cursinho pré-vestibular e teria sido arrancado do ônibus e morto nas proximidades do mercado; levou um tiro na cabeça e morreu na hora.”
Tudo levava a crer que o rapaz poderia estar envolvido com devaneios ilícitos, embora o pai tivesse afirmado que o menino era pacato, ficava horas em frente ao computador, estudava para o vestibular de medicina e nos fins de semana ia ao shopping.
Hoje pela manhã meu tio nos contou a última versão, que sempre soa como a mais verdadeira: “realmente era estudante de cursinho, levou um tiro ao descer do ônibus depois de andar uns vinte metros na rua salinas, perpendicular à rua do mercado”. De fato era um menino estudioso e tranqüilo, afeto mais aos devaneios naturais...foi abordado e atiraram nele, supostamente por motivo de fuga ou por não possuir nenhuma moeda de troca pela vida.
Minha mãe chegou a escutar um choro na terça à noite, mas não sabia bem de onde vinha. Era da terceira casa depois da nossa. Ninguém lá em casa se lembrava de ter visto o menino; somente duas moças. O menino havia nascido depois. Parece que não andava muito à pé. A mãe, provavelmente, está se culpando de não tê-lo buscado no cursinho, justo naquele dia, já que isto era uma rotina. E nós cada vez mais envolvidos nas nossas rotinas. Enfim: só conhecemos o garoto esses dias, protagonista de uma história trágica, vítima de um final incompreensível.
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